🧞♀️ O que é preciso para transformar uma indústria?
Muito se fala de transformação digital na indústria alimentar. Mas a verdadeira mudança não começa com software. Começa sim com ouvir quem mete as mãos na massa todos os dias, com entender bem os seus problemas e entregar soluções simples para os resolver!
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(Text by Paulo Gaspar, CEO of BRAINR, July 2025, iAlimentar Magazine)
Durante meio século, a indústria alimentar portuguesa evoluiu com base em esforço, disciplina e dedicação. Foi esse trabalho, feito todos os dias por milhares de profissionais, que tornou o setor mais robusto, seguro e competitivo. No entanto, os tempos mudaram. E, com eles, surgiram novas exigências: auditorias mais frequentes, margens cada vez mais estreitas, dificuldades em manter equipas, e regulamentos que mudam constantemente.
Neste contexto, a “transformação digital” passou a ocupar o centro da conversa. Fala-se em dados, em eficiência, em inteligência artificial. Mas transformar uma indústria não é simplesmente implementar dashboards bonitos nem comprar tecnologia de prateleira. É mudar a forma como se trabalha. Todos os dias. Em todas as linhas. Com todas as pessoas.
E isso é difícil. Porque exige lidar com a realidade como ela é: imperfeita, urgente, cheia de exceções e decisões de última hora. Foi por isso que a BRAINR não começou com um produto. Começou com uma pergunta: “O que continua a ser difícil de fazer numa fábrica alimentar?” Fomos ouvir. Fomos ver. E só depois começámos a construir.
Da teoria à fábrica: onde a transformação realmente acontece
Hoje, mais de 25% da produção nacional de carne já é processada por software da
BRAINR. E estamos apenas a começar.
Em Viseu, por exemplo, a Campoaves embala 60 mil cuvetes de frango por dia. Para manter a certificação IFS, o rigor na rastreabilidade
é obrigatório. Mas esse rigor era sustentado em papel, esforço humano e risco de erro.
A introdução do BRAINR tornou a rastreabilidade parte integrada da produção, com todos os dados em tempo real e ligação direta às linhas. O impacto foi imediato: menos erros, mais controlo e auditorias superadas à primeira tentativa. Como nos disse Diogo Martins, gestor da qualidade: “O BRAINR ajudou diretamente a conquistar e agora a manter a certificação IFS.” Para Cátia Marques, da equipa de dados mestres, a diferença é clara: “Deixámos de depender da memória e do papel. O sistema agora fala com as linhas de produção.”
Mais a sul, a Avisabor viveu uma transformação radical: de 40 mil para 190 mil frangos por dia, de 80 para 700 colaboradores. O maior desafio? Não foi crescer. Foi manter o controlo. Durante anos, encontrar um sistema que acompanhasse a complexidade da operação foi um problema constante. Com a BRAINR, esse problema deu lugar à visibilidade total. Hoje, sabem exatamente o que entra, o que sai e o que cada linha está a produzir, minuto a minuto. A certeza entrou na rotina. Como afirma Renato Prata, administrador: “Temos um grau de certeza muito grande no que fazemos.” E Juan Oliveira, da equipa administrativa, confirma: “A fatura bate certo, o peso bate certo, o cliente recebe exatamente o que pediu.”
Transformar não é criar apps bonitas. É sentar ao lado de quem opera uma linha, descarrega uma palete ou responde a uma auditoria. É perceber onde os processos falham e construir soluções simples, práticas e robustas. É por isso que os gestores passaram a ver rendimento, perdas e desvios em tempo real, sem folhas paralelas, sem ruído. Em breve, terão assistentes inteligentes que geram relatórios automaticamente. No armazém, a contagem de stock é feita por telemóvel e a rastreabilidade por lote, validade e localização está integrada. No chão de fábrica, os apontamentos manuais desapareceram e as apps móveis tornaram-se mais ágeis. Está a chegar uma nova aplicação de supervisão, pensada para quem lidera turnos. No planeamento, foi deixada para trás a rigidez dos sistemas antigos e já está em desenvolvimento um novo módulo inteligente, com lógica reversa e otimização por rendimento. Na qualidade, a rastreabilidade integral ganha agora um módulo de gestão de incidentes e recalls, com protocolos automáticos e resposta rápida para os cenários mais exigentes.
3 PMEs Portuguesas Vão Poder Testar BRAINR Gratuitamente
E porque sabemos que experimentar é melhor do que prometer, três PME vão poder testar gratuitamente as soluções BRAINR através do programa Test4Food, financiado pelo PRR. Sem investimento inicial! É uma forma concreta de perceber o impacto da digitalização numa fábrica real, com equipas reais.
Mesmo na inteligência artificial, preferimos os pés no chão ao entusiasmo cego. Voltámos a fazer a pergunta certa: “O que continua difícil de fazer no dia a dia?” As respostas estão a orientar o desenvolvimento de soluções com IA - análises automáticas de desvios, explicações em linguagem natural, recomendações práticas. Sem magia, sem promessas vazias. Apenas inteligência aplicada onde realmente faz a diferença.
Reconhecimentos Internacionais Aparecem
Este esforço já começa a ser reconhecido. Fomos distinguidos pela StartUs Insights como uma das melhores soluções do mundo em planeamento e previsão de procura. Recebemos o prémio de produto mais inovador do ano na Lisbon Food Affair. E fomos destacados pela Manufacturing Tech Insights como a principal solução em Cloud-Based Manufacturing Execution Systems. Mas o verdadeiro reconhecimento vem de outro lugar: de quem, no fim do dia, fecha a fábrica com menos erros, mais controlo e mais orgulho no que faz.
Então, o que é preciso para mudar uma indústria?
Talvez seja isto: ter a coragem de começar por baixo, não por cima. Ouvir antes de prometer. Entregar valor antes de pedir atenção. E acreditar que, se fizermos bem feito, o setor vem connosco.
Porque a indústria alimentar portuguesa merece o esforço.
Paulo Gaspar
CEO, BRAINR